Laranja descascada

Toda vez que vou comer uma laranja, um filme da minha infância passa pela minha cabeça. Eu lembro das tardes de domingo em que meus pais me ofereciam uma laranja descascada, mas não era de qualquer forma. As cascas eram tiradas em uma espiral contínua. Ao final, um corte em uma das extremidades da fruta fazia-se uma tampinha. Eu achava um máximo aquilo. Lembro também que eu não gostava de laranja, mas fazia questão de comer somente para ver o espetáculo da casca saindo em fita. Hoje imagino meus filhos sentindo aquela mesma sensação que eu sentia quando criança. De ter o "poder" de descascar uma laranja da mesma forma e ver aqueles mesmos olhos de admiração que eu fazia ao olhar meus pais. Pensava: "Como é que eles conseguem?, Será que um dia eu vou conseguir?".

O que quero dizer é que nossos filhos são os nossos reflexos e tudo o que fazemos, desde os mais pequenos gestos, são copiados por olhos pequenos e atentos. Os nossos xerox começam cedo. Já me disse uma vez o médico ginecologista e obstétrico, João Félix Dias, que aqueles olhares fixos que os bebes fazem, seja na hora da mamada ou simplesmente quando os carregamos no colo, inconscientemente  serão repetidos mais tarde. Um sorriso igual ao da mãe, a forma de falar do pai. A fruta não cai longe do pé.

Como mãe de primeira viagem, todos os dias repasso mentalmente o meu comportamento. Será que fui justa? Será que falei besteira? Será que fui correta? O que será que meus filhos iriam pensar sobre isso? Por eles eu busco ser uma pessoa melhor a cada dia. Por isso, até laranja eu aprendi a descascar.

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